quarta-feira, fevereiro 21, 2007

re-descoberta

POESIA Foi com Manoel de Barros que descobri que nada é por acaso:

I. (estrofre)
"Importante sobremaneira é a palavra repositório;
a palavra repositório eu conheço bem:
tem muitas repercuções
como um algibe entupido de silêncio
sabe a destroços"
(In.: Matéria de Poesia, Manoel de Barros, p. 14)

PASSEIO Nº4

"O homem se olhou: só o seu lado de fora subindo
a ladeira...
Caminhos que o diabo não amassou - disse.
Atrasou o relógio.
Viu um pouco de mato invadindo as ruínas de
sua boca!"
(In.: Matéria de Poesia, Manoel de Barros, p. 41)

A poesia de Manoel de Barros não é apenas surrealista. Tem o lirismo de Manuel Bandeira, a rigidez auto-crítica de João Cabral, o enigma drummondiano e é sucinta como as de Quintada e Oswald de Andrade. E foi com essa poesia que - apesar de ter resquícios regionalistas - finalmente entendi que nada é por acaso. Mesmo depois de termos passado pelas transformações do modernismo, ainda insitem em dizer que poesia é inspiração, que é fumar um charuto ou tomar um absinto que se resolve o problema. O modernismo, de certa forma, só piorou a situação. Sem rima, sem métrica, o poema se tornou algo por pouco banal - qualquer um pode fazer. Será? Manter lirismo e ritmo é um desafio triplicado sem os recursos que foram abandonados. E Manoel de Barros o faz. Além disso, introduz uma poesia com traços surrealistas sem perder o foco e torná-la uma coisa arbitrária. Mantém as rédeas firmes e constrói uma poesia incrível e digna de fama. Redescobri a poesia com Manoel de Barros, e melhor, entendi finalmente que poesia é processo, é trabalho.

O algibe está para os destroços, assim como o repositório está para a poesia.
O segundo, deixo pra vocês.

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quinta-feira, fevereiro 15, 2007

livin' la vida loca

"Eu senti a morte."
"Eu pensei que estava morto."
"Eu vi a morte passar pelos meus olhos."
De todas as frases acima, só a última é possível.

História de pescador. Não confie. O resto é lorota.

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segunda-feira, fevereiro 12, 2007

parnaso-candango

BRASÍLIA Relacionando cidades a movimentos literários, São Paulo seria a modernista, o Rio a naturalista, Ouro Preto (Vila Rica) a clássica, Salvador barroca. Brasília seria parnasiana. Parnasiana pela dureza do verso, uma construção a la João Cabral. Parnasiana pela clareza e pela lucidez. Parnasiana pelas linhas retas, pela retidão semântica. Parnasiana pela falta de esquinas, pela falta de enroscos. Parnasiana pela pluralidade material. Parnasiana pela razão.

Se Brasília fosse uma poesia, não seria concreta como normalmente se pensaria. Seria parnasiana. O concreto é sua matéria prima... sua essência é parnasiana. Evita-se poetizar Brasília, filmá-la, divulgá-la. Brasília foi uma grande revolução baseada na complexa simplicidade. Clarisse Lispector a definiu como "o fracasso do mais espetacular sucesso do mundo". Como também pode-se definir a escola parnasiana. O resto é poeira candanga.

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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

pensamento disperso, parte I

HUMANIDADES Se eu amo a humanidade? Sim, amo. Se não amasse não gritaria por ela. Ao contrário de muita gente, que prefere achar que o mundo é uma bosta e todos os homens deveria explodir com suas próprias bombas atômicas, eu gosto de pensar que, embora o homem possa ser mal e até ingênuo por demais, não vamos nos destruir com toda essa facilidade. Afinal é próprio do ser humano uma dualidade, e falar disso chega a ser um clichê. O homem quer destruir o homem. Mas ele não vai destruir a si mesmo.

Ainda assim eu amo a humanidade. E chego a pensar, até envergonhadamente, que sou um otimista. Me envergonho porque, afinal de contas, um pessimista não passa de um otimista com experiência.

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inferno astral

EU Tudo bem. Esses posts 'eu' já cansaram, mas como eu tô puto, eu mereço. De qualquer forma depois de amanhã (no caso, amanhã - já virou o dia) é meu aniversário e saio do inferno astral. Não que astros me influenciem, mas a superstição me acompanha, como a todo bom ator.

E saindo do inferno astral as coisas começam a se acertar. Não passei no vestibular, mas já surgiu uma luz no fim do túnel. Um dia conto. Vestibular? Página virada. Voltemos às criticas e aos meus excessos esquerdistas.

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terça-feira, fevereiro 06, 2007

asking for a refound

Só um pedido.

Quando os senhores forem commentar, só deixem o blog de vcs pra eu poder responder, ok?
E, pra não ficar em branco, não, não passei no vestibular.
Só gastei um mês de ansiedade à toa.
Bom. Pelo menos, ele não destruiu minhas unhas: continuam intactas.

trim

EU Acho que vou voltar a roer as unhas. Deixar de roê-las não me trouxe bem algum, pelo contrário, só a necessidade de cortá-las, e como não sei fazê-lo, encravo-as.

A 15:30 horas de sair o resultado do vestibular você acaba por descobrir que até mesmo roer as unhas tem suas utilidades.

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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

chiliquento

KASSAB E parece que esqueceram de dar Maracujina ao nosso excelentíssimo prefeito nessa segunda feira. Ele e sua turminha de secretários estavam numa unidade de saúde, quando eis que surge um manifestante protestando contra a lei que proíbe os outdoors. Que máximo! O prefeito - dominado por uma fúria extraordinária - expulsou o manifestante aos berros do lugar, chamando por nomes afáveis e carinhosos como 'vagabundo'.

Tudo bem que o digno senhor deveria ter se tocado e tomar o cuidado de não se manifestar numa unidade de saúde. Mas o prefeito também podia se dar ao respeito. Afinal, esse tipo de atitude liquida autoridade, e isso é algo que o prefeito em especial não pode se dar ao luxo de perder, porque a dele já é bem pouca.

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páginas de tédio

PÁGINAS DA VIDA Eu sinceramente gostaria de saber se sou o único que encherga o poço de mediocridade e lugar-comum que são as “Páginas da Vida”, escritas pelo Manoel Carlos e apresentadas pela Rede Globo. Com o intuito de transmitir idéias retrógradas e ser moralista, a novela não tem enredo nem conflito, e se limita apenas a ilustrar problemas cotidianos de famílias ricas. O lugar-comum impera nos tais “diálogos do dia-a-dia”, que é a especialidade do escritor, o qual usa-se de métodos até ridículos para atingí-los. Entre eles:
¤ Nanda - um capítulo que não fale o nome da falecida é raridade. todos vivem em função dela (e olha que ela morreu faz 5 anos);
¤ Parto - não sei o que é pior, usar o parto pra mostrar realidade ou dar-se a esse propósito;
¤ Moralismo - o grande patriarca adora dar lições de moral e de boa conduta. gosta dos bons costumes;
¤ Conservadorismo - essa tem um monte - lugar de empregado é na cozinha, quieto, comendo bolo de fubá (Massafera que o diga) - aborto é coisa do demônio (estamos no século XXI);
¤ Paisagens - o Rio de Janeiro continua lindo, todo mundo sabe. mas botá-lo como enchimento de lingüiça já perdeu a graça.
Enfim, essa foi só uma amostra grátis. Personagens absolutamente sem fundamento, nenhum enredo (não há uma sinopse pra novela), falta de linearidade.
Dela só tiro duas coisas boas. A trilha (bossa nova, não me canso de ouvir) e Winits (personagem e atriz) que estão de parabéns.

Me admira muito não ter lido uma crítica sequer acerca dessa novela. Pode falar que "você fala mal, mas assiste - dá audiência". Óbvio. Não sou ridículo, não vou sair por aí falando mal do que desconheço. Assisto, mas consciente da falta de qualidade.
Graças aos céus que falta menos de um mês pra essa joça acabar. Vou pôr um despertador e dormir. Ele vai me avisar quando chegar o Paraíso Tropical

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sábado, fevereiro 03, 2007

fênix

FIDEL E Fidel Castro renasce contra las cinzas del diablo e reaparece junto com o Chávez em um vídeo. Costumam dizer que cantar vitória não é bom. Agora os americanos que o digam. A prefeitura de Miami estudava a possibilidade de abrir um Estádio para a comemoração da morte de Fidel por cubanos fugidos para a Flórida. Ao que parece, a festa micou.

O vídeo já está no YouTube. Mas eu tenho certeza que, diferente do namorado da Cicarelli, Chavez não vai tirá-lo de lá. Afinal, alguém vai perder a chance de ver Fidel reaparecer? Um alívio, sem dúvida!

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a (não deveria ser tão) grande família

A GRANDE FAMÍLIA Erra consideravelmente na narrativa. O filme torna-se longo, cansativo e até mesmo desinteressante. É notadamente inferior ao seriado, pois não tem o mesmo ritmo nem (talvez) o mesmo propósito de comédia. Repetir 3 vezes a mesma história - ainda que contada de forma diferente - foi muito infeliz. Óbvio que vale a pena por algumas piadas e pela atuações dos atores, mas quando percebe-se que tudo vai se repetir pela terceira vez, torna-se até mesmo um incômodo. Talvez assisti-lo por DVD não seja tão maçante.

Acho que isso meio que comprova mais uma vez que há meios e meios. Uma série não pode ser filme, que não pode ser romance, que não pode ser conto, etc., etc., etc.

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babel, torre de

BABEL O filme - que aos desatentos pode parecer um pouco confuso- não foge de sua proposta, não surpreende, mas também não decepciona. Cenas bem feitas, atadas por recursos um pouco batidos, mas bem utilizados. De fato, o roteiro é bastante original, e não podia ser de outro jeito. A história consegue atar México, Estados Unidos, Marrocos e Japão de uma forma coerente, o que só é possível nos dias globalizados de hoje, tendo em vista a estrutura do filme. Os núcleos, embora independam uns dos outros, são bem focados e tem atores suficientes para os papéis. Colocar o núcleo Marroquino como central é um erro - o Brad Pitt não se destaca entre os demais atores.

Sem dúvida é pró-globalização. Um filme que critica as barreiras da burocracia e do Estado e para tanto usa-se de elementos cotidianos como a travessia da fronteira México-EUA, a surdez e (como sugere o título) as limitações culturais e lingüísticas de cada país. É o fim das barreiras burocráticas. Que venha a globalização.

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