domingo, maio 06, 2007

hipertrofia de cérebros de ostra

HISTERIA Se um autor renomado fosse escrever um romance que começasse no começo desse século XX, ele poderia muito bem começar assim: Era no tempo da histeria. Não digo a histeria doença, aquela lá do Freud, não, não... Digo a histeria no sentido "2. comportamento caracterizado por excessiva emotividade ou terror pânico" (HOUAISS). A histeria que reza que jogar um papelzinho pela janela do carro é crime inafiançável, mas que dar uma robadinha é permitido. Ah, sim, existem grandes ícones magnânimos da histeria. O primeiro é o celular. A maquininha mais histérica de todas. Aquela que tira fotos, envia mensagens, joga jogos, toca mp3, vibra (até), tem rádio, televisão, toca clips, filmes, documentários, e -veja você!- até comercial em terceira dimensão. E tudo isso para a sua mais perfeita comodidade, perda de dinheiro e inutilidade, porque, afinal de contas, você compra e reduz o seu cérebro (que já deve ser reduzido) a um um pouco maior que o de uma ostra.
Veja agora como a coisa é curiosa, a histeria chega a tal ponto, que é preciso que o cinema reeduque as pessoas a não deixarem seu celular ligado. Ah, mas pode ser uma emergência. Óbvio. A emergência de que não tem pó de café em casa, e que a sua mãe volta de Miami na semana que vem - motivos super emergencias que requerem o celular ligado (altamente ligado) durante todo o maldito filme.
Compartilhar coisas com as pessoas tem se tornado cada vez mais difícil desde o advento e disseminação do iPod. Aquela porcariazinha que se enfia nos tímpanos pra ouvir de tudo, desde Ivete Sangalo no meio do shooping, até Mozart no ônibus lotado às 17:00h no caminho de volta para casa. E vejam como eu me divirto e me distraio sozinho, sem precisar de vocês, retardados que estão ao meu lado.
Agora diz. Diz aquela frase "vamos tirar uma foto?". A máquina digital traz pra você toda a facilidade de uma câmera adaptada ao mundo moderno. A mais última maneira de se banalizar coisas. Momentos, pessoas, fotografias. Tudo banalizado. Não ficou bom? Deleta e tira outra.

Eu fico particularmente ofendido com tudo isso. Ofendido com o retardado que não se separa do celular nem pra cagar, com o imbecil que não me fala bom dia, porque tem um fone enterrado nos ouvidos, com o cérebro de amêndoa que me pede pra tirar uma foto, que vai pro fotolog. É uma afronta, uma violência tamanha a quantidade de informações não-sintetizadas largadas pelo mundo. De que adianta todas essas informações, se as pessoas que as recebem não sabem aplicá-las? Eu espero que um dia alguém crie uma máquina de observar ridículos, e que essa máquina seja comprada, disseminada e esquecida. Afinal, eu também já me cansei de fazer críticas pra ninguém ouvir.

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